Sentir, Pensar e... AGIR! Por que mudar a forma de agir é mais efetivo do que "pensar positivo".

Você já se sentiu preso em um ciclo de pensamentos negativos e, como solução, ouviu o conselho: "pense positivo"? Talvez você tenha tentado repetir afirmações, visualizar o sucesso ou simplesmente forçar uma perspectiva otimista, apenas para descobrir que, no fundo, a angústia e a insatisfação permaneciam as mesmas. Se essa experiência lhe é familiar, saiba que a dificuldade não está em você, mas na própria lógica de que a mudança ocorre de "dentro para fora". Entenda melhor com a leitura completa da publicação.

10/3/20254 min read

Você já se sentiu preso em um ciclo de pensamentos negativos e, como solução, ouviu o conselho: "pense positivo"? Talvez você tenha tentado repetir afirmações, visualizar o sucesso ou simplesmente forçar uma perspectiva otimista, apenas para descobrir que, no fundo, a angústia e a insatisfação permaneciam as mesmas. Se essa experiência lhe é familiar, saiba que a dificuldade não está em você, mas na própria lógica de que a mudança ocorre de "dentro para fora".

A cultura do "pensar positivo" e da "lei da atração" nos vende uma ideia sedutora, mas problemática: a de que a nossa mente é uma força soberana capaz de moldar a realidade apenas com o poder do pensamento. Essa visão, que na filosofia chamamos de idealista, coloca toda a responsabilidade da mudança em um esforço puramente intelectual, ignorando as condições concretas da nossa vida. Afinal, como "pensar positivo" sobre uma carreira que nos adoece ou sobre relações que nos causam sofrimento?

Na Psicologia Histórico-Cultural, compreendemos que a transformação real não acontece em um monólogo interno, alheio a realidade, mas na relação viva e dinâmica com o mundo.

A Unidade Inseparável: Pensamento, Sentimento e Ação

Muitas vezes, somos levados a acreditar que nossos pensamentos, sentimentos e ações são como gavetas separadas. Primeiro, eu preciso pensar de forma diferente para, então, me sentir melhor e, finalmente, agir no mundo. A realidade, contudo, é muito mais integrada.

Para a psicologia fundamentada no materialismo histórico-dialético, não existe uma separação rígida entre o que sentimos (afeto) e o que pensamos (intelecto). Pelo contrário, eles formam uma unidade dialética. Nossos sentimentos são repletos de pensamentos e nossas ideias são carregadas de emoções. E ambos, afeto e intelecto, são constituídos e transformados pela nossa atividade no mundo.

Isso significa que, embora a reflexão seja importante, é a nossa ação concreta que possui o poder de reorganizar tanto o que pensamos quanto o que sentimos.

Atividade: O Verdadeiro Motor da Mudança

Imagine uma pessoa que se sente profundamente solitária e inadequada em situações sociais. A abordagem do "pensar positivo" sugeriria que ela repetisse para si mesma: "Eu sou confiante e as pessoas gostam de mim". O resultado provável é um sentimento de fraude, pois seus pensamentos se chocam com sua experiência real de isolamento.

Agora, vamos pensar através da atividade. Em vez de focar em mudar o pensamento, o foco se volta para mudar a ação, mesmo que em pequena escala. Essa pessoa poderia, por exemplo, se inscrever em um curso de um tema que lhe interessa, como cerâmica, um clube do livro ou uma aula de dança.

Ao se engajar nessa nova atividade, ela não está tentando se forçar a pensar diferente. Ela está se colocando em movimento, em uma nova situação real. Nessa prática, ela:

  1. Encontra pessoas com interesses em comum, o que pode gerar conversas e conexões mais genuínas.

  2. Desenvolve uma nova habilidade, o que pode fortalecer sua autoestima e senso de capacidade.

  3. Vive novas experiências, que fornecem material concreto para novos pensamentos e sentimentos sobre si mesma e sobre os outros.

A ação de ir ao curso não é apenas um comportamento. É uma ação consciente, uma unidade entre teoria e prática. A pessoa age no mundo de forma consciente e, ao fazer isso, transforma tanto o seu entorno (seu círculo social) quanto a si mesma (seus sentimentos de solidão e inadequação dão lugar a novos sentimentos de pertencimento e competência). A mudança no pensamento e no sentimento é uma consequência da mudança na atividade, e não sua causa inicial.

Da Reflexão à Ação Consciente

Isso não quer dizer que pensar sobre nossos problemas seja inútil. A psicoterapia, por exemplo, é um espaço fundamental para a elaboração e a tomada de consciência. No entanto, na perspectiva da Psicologia Histórico-Cultural, esse processo tem como objetivo final não apenas um novo entendimento, mas a construção de uma nova relação / vinculo com a realidade.

O processo terapêutico nos ajuda a compreender as raízes de nossos sofrimentos e a identificar as atividades que os sustentam. A partir daí, podemos planejar e executar, de forma consciente e acompanhada, ações que rompam com esses ciclos e construam novas possibilidades de relação com a realidades. A mudança se torna, então, um projeto prático, não uma batalha interna e solitária contra os próprios pensamentos.

Se você se sente paralisado, tentando mudar seus sentimentos apenas com a força do pensamento, talvez seja a hora de mudar o foco. A psicoterapia pode ser um espaço potente para compreender as barreiras que o impedem de agir e para construir, na prática, novos caminhos que gerem novos pensamentos e, principalmente, novos e mais potentes afetos.

Para profissionais da psicologia e da saúde que buscam aprofundar seu entendimento sobre como a categoria de atividade e a ação consciente são centrais para a promoção de transformações subjetivas, nosso espaço formativo oferece cursos e supervisões. Neles, discutimos como instrumentalizar sua prática clínica na PHC.

Referências Teóricas Sugeridas:

Leontiev, A. N. (2004). O desenvolvimento do psiquismo. Centauro. (Principalmente os capítulos sobre a origem e o desenvolvimento da consciência e da atividade).

Vigotski, L. S. (2004). Teoria e método em psicologia. Martins Fontes.

Marx, K. (2007). Teses sobre Feuerbach. In: A Ideologia Alemã. Boitempo Editorial.